Mano Tony Neves Just Have Fun

Domingo eu trabalhei num evento na Vila Olímpica Mario Covas, no extremo oeste de São Paulo. No meio da tarde choveu, então a sessão foi interrompida. Quando eu estava indo embora, carregando o caminhão, vi que tinha um menino andando de skate na chuva. De início, o que me chamou atenção foi o sorriso no rosto, a pura essência do skateboard numa criança se divertindo. Olhei em volta e não percebi ninguém, o menino estava só… Aí, fiquei meio paralisado, encantado com aquele momento puro, com o menino rodando pela pista toda molhada. Eu devia estar ajudando meus colegas, mas não conseguia deixar de apreciar aquele momento mágico.

Mas quando ele começou a flipar, quis ver mais de perto. Então percebi que tinha um adulto chegando e deduzi ser o pai. Chegando no parque, o menino deve ter corrido para a pista e a família chegou depois. Perguntei pro pai se eu podia filmar ele andando, ele deixou. Mas aí ele começou a errar e disse que não se sente bem sendo gravado. Eu comentei que também tenho esse problema/desapego e deixei ele em paz andando.

Fui ajudar no caminhão e continuei vendo a sessão solitária do garoto na pista, encantado com a postura estilosa em cima do skate, a habilidade e a felicidade, ignorando a precariedade do skate e tênis. Eu fiquei desesperado que queria ajudar de alguma forma, comentei com meus colegas Felipe e Apelão, eles olharam e também ficaram impressionados. Não tinha como! Aí o Felipe pediu para eu desmontar o skate dele pra dar o deck.

Quando terminamos de carregar o caminhão, fomos para a pista. O Felipe Silva deu o deck pra ele e fiquei conversando com o pai. Nos apresentamos. O pai, Antônio, e o filho, Tony Neves, 11 anos. Antônio disse que só saiu de casa porque Tony não parava de chorar, que queria ir para a pista, 40 minutos da casa deles. Ele comentou que Tony só pensa em skate e não entende essa paixão do filho. Eu expliquei que quando comecei, também era assim e quero ajudar no que for possível, pois me vejo nele.

Já com essa intimidade inicial, convenci o Tony para gravar algumas coisas. Sendo que, com o skate novo, nunca mais ele deve andar na chuva. Explicamos que não se molha o skate.

Geralmente, eu registro personagens fascinantes que conheço pela vida, mas não posto. De noite, quando cheguei em casa, juntei algumas imagens que fiz do Tony e mandei pro pai. Tony me mandou um áudio muito feliz aprovando o registro. Então decidi postar no Instagram, com o propósito de espalhar positividade e inspiração, através desse novo amigo que fiz.

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JUST HAVE FUN

Mas eu acho que nem todos devem ter entendido meu propósito e a mensagem que está estampada na camiseta do Mano Tony nessa sessão: APENAS SE DIVIRTA é a tradução de JUST HAVE FUN.

Aparentemente esse post viralizou e alguns pseudo-ativistas de redes sociais querem levar o tema para o lado materialista, que precisam se mobilizar para dar peças para o Tony e serem vistos como agentes sociais heróicos. Com certeza o Tony merece um skate novo. Mas não é disso que se trata. Eu queria muito que as pessoas assistissem esse vídeo e tivessem interesse em ir conhecer pessoalmente esse ser iluminado inspirador. Ele costuma frequentar um bowl no bairro Educandário e a pista da Vila Olímpica, que aliás, conheci uns locais muito nobres.

Just Have Fun ✨
Mano Tony inspirou.
Obrigado, Skateboarding 💞

Escrevi essa legenda simples e objetiva no post, mas algumas pessoas não leram ou absorveram. Isso me incomodou e me motivou a escrever esse post.

Meu Mano Tony (ainda) não está contaminado pelas redes sociais. Por isso seu skate me encantou. Ele anda por satisfação pessoal, independente de manobras e bens materiais.

Aos agitadores de redes sociais, eu recomendo que junte materiais e distribua em suas comunidades. Em todas as pistas tem crianças precisando de ajuda, não precisa ir longe para achar quem precise de peças e tênis.

Pra finalizar: se for pra ajudar, que seja de coração, não marketing pessoal.