O skate auxiliando na inclusão social para prevenir o auxílio-reclusão

Sexta-feira. Acordei ciente de uma missão à enfrentar na parte da tarde. Iria acompanhar uma apresentação de skate do Biano Bianchin dentro da unidade Itaquera da Fundação CASA, um projeto do Sandro Testinha que está completando uma década esse ano.
Mas despertei animado. Já acompanhei diversas ações do Testinha com os menores infratores, mas ainda não tinha visitado pessoalmente uma casa de detenção.
Antes de sair de casa, checando emails, recebi uma mensagem do Rubens Sunab, sobre uma tal lei de “auxílio-reclusão”, que consiste em dar direito aos presidiários a receber absurdos R$798,30 por filho! Eu nunca tinha escutado falar, mas ela passou a ser válida a partir de 1° de janeiro desse ano. Está no site da Previdência Social. Pode conferir no http://www.previdenciasocial.gov.br/conteudoDinamico.php?id=22.
Fiquei encucado. Achei muito absurda essa lei. Imagina um cara tendo direito de receber mais de um salário mínimo por cada bacuri que colocou no mundo, enquanto um pai de família honesto sua pra ganhar um salário mínimo (R$510,00) e manter um lar. Esse assunto é complexo, não sou eu que vou solucionar, mas vale a propagação e reflexão coletiva, para que seja melhor avaliado e entendido pela população.

Uma das experiência mais difíceis de descrever é uma visita à casa de detenção. A “cadeia” é o último lugar, antes do cemitério, que todos seres humanos temem estar.
A idéia de entrar num lugar desse por livre e espontânea vontade é amedrontadora. Mas se o Testinha faz isso há anos e o trabalho dele é reconhecido com grande credibilidade pelo alto clero da Fundação, era mais que obrigação minha, como admirador do seu trabalho, presenciar a aula de integração social utilizando o skate como ferramenta. E não me arrependi.
Ver o sorriso estampado no rosto da molecada (que, na verdade, são marmajões maiores que eu) enquanto estão andando de skate, é impressionante. Conversar com eles, é uma grande experiência também. Lá, eu falei com alguns, e tenho uma opinião sobre o que os leva a vida do crime. Pra mim, o principal fator que os leva a marginalidade, é o círculo de amizades. Desde criança eles convivem praticando o crime sem ter noção do que estão fazendo. Cada desafio de roubar é como se fosse tentar uma manobra nova. Eles querem ser um melhor que o outro, só que ao invés do flip descendo a escada de 20 degraus pra superar o amigo que desceu a mesma escada de ollie, eles competem vendo quem rouba o maior número de toca fitas.
Agora, eles conhecem o skate. E sabem que chegando aqui fora, vão ser recebidos de braços abertos nas sessões.

E assim, o skate vai auxiliando na inclusão social para prevenir o auxílio-reclusão. Mais uma vez, parabéns ao Sandro Testinha.

A matéria dessa visita vai ao ar no Planeta EXPN dessa terça-feira, dia 2, às 14h no canal ESPN.
Mais fotos no ESPN.com.br/Skate

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