Lorran Freitas

Entrevista com Lorran Freitas

Entrevista com Lorran Freitas
Lorran Freitas (Divulgação Hocks/Alex Brandão)

Lorran Freitas faz parte de uma geração de skate do Rio de Janeiro que pegou uma cena sólida, organizada e quase perfeita.

Ele está colhendo os frutos de gerações anteriores que lutaram e suaram bastante para que o skate carioca tivesse estrutura para andar em picos bons.

Atualmente, o Rio de Janeiro é um dos destinos preferidos para se andar de skate no mundo todo, mas até bem pouco tempo atrás era proibido fazer sessões na Praça XV, pico mais tradicional na cidade.

Mesmo sendo skatista amador, Lorran não precisa competir para viver de skate. Ele pode se dedicar exclusivamente para só andar de skate, viajar e filmar.

Com o dinheiro que ganha, economiza e não gasta com futilidades. Nessa pandemia ele está aproveitando para construir sua própria casa. E, por mais essa, vê se que ele tem cabeça no lugar e é um detalhe a mais que o fará um grande skatista profissional.

Eu quis fazer essa entrevista com ele pra mostrar o seu início no skate, porque sua biografia no skate merece ser registrada.

Acredito que em breve ele se profissionalize e desde já merece ser referência, não só pelas manobras, mas principalmente pela atitude humilde, a alegria e consciência.

Quando ele se profissionalizar farei outra entrevista. Primeiro, conheça suas raízes.

Entrevista com Lorran Freitas
Lorran Freitas, boardslide (Divulgação Hocks/Alex Brandão)

Sidney Arakaki: Você é de qual bairro do Rio?

Lorran Freitas: Eu sou de um bairro chamado Santíssimo, na zona oeste do Rio de Janeiro.

Conta sobre o teu começo no skate.

Um amigo da minha irmã, o Matheus – que mais tarde veio a ser meu amigo; sempre me prometeu montar um skate e me dar, mas nunca me deu.

Mas dali, a vontade de ter um sempre aumentou. Até que fiz 13 anos e minha vó e minha irmã mais velha me deram um daqueles da “Casa e Vídeo“ (rede de lojas do Rio de Janeiro), e desde ali não parei mais. Mas a minha maior inspiração sempre foi esse amigo, que me prometeu e independente dele não ter conseguido me dar um skate, eu sou eternamente grato por ter me apresentado o skate. Esse amigo faleceu alguns anos atrás e queria muito que ele estivesse aqui pra ver onde o skate está me levando graças a ele.

Em que ano você ganhou o skate?

Ganhei no natal de 2005 e comecei em 2006.

Onde eram suas primeiras sessões?

As primeiras foram na pista de skate de Realengo e na pista de skate em Angra dos Reis. Pois assim que ganhei o skate, eu me mudei duas vezes entre Angra e Rio de Janeiro.

Conta algumas lembranças dessas sessões em Realengo e Angra.

Lembro que em Angra era difícil pra conseguir ir pra pista andar. Eu dava calote no ônibus e andava mais nos finais de semana. Mas depois comecei a matar muita aula pra ir pra pista (risos). Mas eu amava estar junto com a galera que sempre foi muito de boa comigo, mesmo eu atrapalhando sempre. Mas isso tudo foi em menos de um ano, pois fiquei poucos meses lá e vim pro Rio de Janeiro.

Aí, uma vez eu andando numa calçada, um cara – o Eric Fernandez; me chamou pra andar no galpão que ele cuidava em Realengo, que tinha uns obstáculos e tinha a pista de skate do lado. Eu estudava de manhã e já ia direto pra esses dois lugares.

Quem eram suas influências no começo, além do Matheus?

Minha primeira inspiração de como eu queria ser foi o Leandro “Olhadinha” lá de Angra. Ele chegava na pista, eu parava de andar pra ver ele andando. Depois, meu sonho era ver um Pro andando. Aí, uma vez em Realengo, chegou o Marcello Gouvea. Eu ficava fascinado em ver ele andando. Aliás, até hoje eu fico (risos). Foram as minhas primeiras influências.

Qual sua primeira impressão quando viu o Marcello ao vivo? Eu fiquei assustado quando o conheci.

Eu tive exatamente essa impressão, ainda mais a facilidade em que ele quebrou o shape em um disaster (risos), fiquei de cara. Lembro que parecia que ele andava como se fosse o último dia de vida dele.

Entrevista com Lorran Freitas
Heelflip wallride do Lorran Freitas. (Divulgação Hocks/Alex Brandão)

Você chegou a ver a revista Rio Skatemag?

Cheguei a ganhar uma, mas ela já não existia mais. Acho que a capa era o próprio MG. Não recordo muito bem se era a capa, mas lembro da foto de um frontside lipslide dele.

O frontside lipslide foi capa de uma edição que teve entrevistona dele.

Então foi essa mesmo (risos) faz tantos anos.

Então você foi mais influenciado pela internet mesmo, vídeos de skate?

Peguei a transição da internet e os DVDs, mas como não tinha computador, eu assistia os DVDs que me emprestavam e eu não devolvia mais (risos). Lembro que o meu auge da influência foi o primeiro vídeo que assisti, o “Yeah Right”, da Girl. Quando queria ver outro vídeo diferente, eu ia pra lan house e pesquisava os vídeos.

Assistia os vídeos na lan house?

Sim, bastante. Os meus amigos não entendiam muito bem, porque eles iam pra jogar e eu, assistir vídeos de skate.

Quando você começou a frequentar as sessões na Praça XV e Centro?

Meu primeiro contato com a XV e Centro foi em 2007. Ia só as vezes mesmo, e a partir de 2010 que passei a andar mais e mais por lá.

Entrevista com Lorran Freitas
Wallie k-grind do Lorran Freitas no “Passaporte Hocks” no Rio de Janeiro. (Divulgação Hocks/Alex Brandão)

Qual seu lugar favorito pra andar de skate no Rio?

Os banquinhos do setor 2 da praça Mauá. Eu gosto de começar meu dia andando ali e depois ir pra XV na sequência.

Você comentou que está fazendo uma obra na sua casa agora na quarentena. Melhor forma de se ocupar e não sair pra rua nesse momento. Distrai e não fica só pensando em skate.

Sim, tem me ajudado bastante nesses tempos difíceis. Eu tenho dedicado esse tempo todo a isso. Quero adiantar o máximo que puder. Aprendi umas coisas assistindo no YouTube e faço o que acho que consigo fazer. Ansioso pra terminar ela o quanto antes, tô construindo ela com dinheiro que o skate está me dando. Tá indo devagar, mas tá fluindo.

Legal demais! Seu patrocinador principal é a Hocks? Depois que você entrou na marca sua estrutura pra andar melhorou bastante. Tem conversas sobre profissionalização?

Sim, atualmente é meu patrocinador principal, e desde que entrei eu só tenho me preocupado em apenas andar de skate e gravar.

E também é muito bom estar em tour e ter que se preocupar em apenas andar de skate.

Quanto a profissionalização, é algo que eu quero que chegue um dia. Quero sempre me dedicar da melhor forma, fazendo as coisas como sempre fiz, só que cada vez melhor. Eu e o Alex Brandão (team manager) já tivemos umas conversas sobre. Acredito que esteja indo no caminho certo pra um dia vir a me tornar Pro. Só continuar fazendo mais e mais e viver a vida de skatista aí pelo mundo a fora que a profissionalização vem. Fico imaginando o quão gratificante é ter um model ou um colorway.

Entrevista com Lorran Freitas
Lorran filmando com Samir Barcelos para o “Passaporte Hocks” no Rio. (Divulgação Hocks/Alex Brandão)

Quais melhores viagens que você fez pela Hocks?

Acho que as tours pra cá, pro Rio de Janeiro, pela experiência de andar com todo o time e as idas para Porto Alegre, andar no IAPI e conhecer uma galera do sul. E das vezes que fui pra São Paulo para a premiere do “Hocks in Rio” e para gravar umas coisas para umas campanhas. Cada viagem um aprendizado e experiências novas.

Fala aí a história desse vídeo que você produziu.

Tudo começou com a vontade de ter uma VX. Sempre gostei da estética das imagens e movimento, e a tela em 4:3. Então quando entrei pra Hocks e comecei a receber uma grana, eu peguei e juntei pra comprar. E aí decidi fazer uma parte de VX, por satisfação própria. Sempre pedindo ajuda de um amigo aqui e outro ali pra ir me filmando e eu filmando eles. Aquela coisa de skatista pra skatista. Aí me lembro que em uma das tours da Hocks, eu já tinha uma certa amizade e proximidade maior do (Alexandre) Cotinz, então eu perguntei a ele, se eu mandasse as imagens pra ele, se ele podia editar. Ele falou, “com certeza”, e sempre fui mandando pra ele as imagens. E ele falando pra fazer de tal jeito ou melhorar tal coisa. Não foi fácil de fazer, ainda mais sendo um equipamento analógico, que tem todo o processo de capturar, cabeçote sujo, essas coisas de câmera antiga. E a ajuda dos amigos foi o que mais me impulsionou, e nos últimos meses dois amigos foram essenciais para eu conseguir finalizar a parte, o Charpe e o Pedro Minidead. Toda sessão que eu queria fazer eles fechavam e iam comigo. Só tenho a agradecer a todos que ajudaram.

Tem projeto pronto seu em andamento ou precisa começar do zero depois que a pandemia começar a ser controlada?

Atualmente eu comprei uma câmera HD, uma HVX200. Tô trabalhando para uma parte pra Hocks. Já tenho umas imagens, eu ia na próxima semana para Berlim com uns amigos, pra tentar finalizar lá. Com a pandemia atrapalhou muito, e assim que as coisas melhorarem eu vou tentar finalizar o quanto antes pra correr atrás desse tempo perdido. Mas tô muito empolgado pra esse projeto!

Mande sugestões, dúvidas, etc, para contato@skataholic.com.br

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