Meu amigo Gay

Eu tenho um amigo gay.

Nesse domingo ele tornou isso público e fiquei muito feliz por ele.

Apenas algumas pessoas próximas sabiam e tenho a honra de poder conviver com ele e o companheiro nos últimos anos.

Eu já fui muito preconceituoso e homofóbico, mas a partir do momento que o meu amigo assumiu ser gay pra mim, mudei o conceito.

Preconceito ridículo, como tantos outros que vou reaprendendo a deletar da minha vida.

Quando fiquei sabendo que meu amigo era gay, vi que não era nada demais.

Mas na época, eu tinha vergonha de ser amigo do gay.

Hoje, tenho orgulho, principalmente com a coragem que ele se posicionou.

Obrigado, Rodrigo Kbça, pela amizade e inspiração para abrir a minha mente e me libertar de tantos preconceitos.

Espero que você e o Luiz sejam muito felizes.

Amo vocês!

Aqui embaixo, o texto do Kbça

“Sempre achei a palavra assumir muito forte. Sempre me pareceu que ela é mais adequada a pessoas que cometeram um crime ou fizeram alguma coisa errada. E ser gay não é errado. Aos 44 anos posso quebrar a porta do armário, no qual eu nunca me senti preso, e dizer que sou gay e tenho orgulho de ser quem sou.Confesso que demorou um tempo pra eu entender que não havia nada de errado e tão pouco isso era motivo para vergonha. Se eu falar que meus amigos de infância e juventude me ajudaram nesse processo, estarei mentindo. Por muitos anos fui motivo de chacota por não me enquadrar no modelo que eles achavam aceitável e cheguei até a ficar com uma guria apenas pra me sentir aceito. Aos 18 anos, finalmente entendi que eu nunca iria preencher aqueles requisitos: ser o comedor e pegador e, pouco a pouco fui entendendo os processos para me aceitar e tentar o máximo possível não ser hipócrita, mas ao mesmo tempo eu tinha que ter quase uma vida paralela. Se eu puxar pela lembrança, na minha juventude eu só neguei uma vez que era gay. Meus amigos nunca me perguntavam diretamente, mas preferiam zombar de mim pelas costas e, certo modo, nunca precisei ser corajoso. Apenas me limitava a não opinar quando ao assunto era aquela mina gostosa. Aos 18 contei para meus pais e família. Entendo o primeiro momento de choque, mas não demorou muito para eles entenderem que, apesar de tudo, o Rodrigo continuava ali. Ele continua até hoje. Aos poucos fui contando para alguns amigos e eles foram me ajudando cada vez mais a entender que eu não estava errado. Por incrível que pareça, foram os que eu tinha menos contato que foram me abraçando e me dando esse suporte. Porém, ainda assim eu me escondia, não gostava de ser visto com namorados. Não gostava de me expor. Em partes, isso me ajudou/forçou a sair de Esteio, minha cidade natal. Vim pra São Paulo, cidade na qual, segundo minha cabeça, eu seria invisível, anônimo. Isso ajuda por um lado, mas outro faz que com que a gente suma, pouco a pouco e, no fundo ser invisível não é bom. Ser invisível te engole. Te diminui aos poucos. Mas São Paulo também foi o lugar que fez eu ter mais coragem. Ao poucos fui contando para mais amigos. Aos poucos fui tendo menos vergonha de ser eu mesmo. Hoje, a maioria das pessoas com as quais me relaciono sabem abertamente que sou gay e, inclusive, conhecem meu companheiro nos últimos quase oito anos, o Luiz. Apesar de já ter escutado que sou tão bem resolvido e que jamais precisaria de um analista, o processo de aceitação pessoal foi longo e, em alguns períodos, dolorido e penoso, mas confesso que valeu a pena. Mas porque falar sobre isso aos 44 anos é tão importante pra mim. Isso tem a ver com algumas coisas, mas principalmente com um cara que virou meu amigo e que faleceu recentemente. Estava em um carro com Jeff Grosso e a equipe que grava o Loveletters to Skateboarding no Brasil e eles me perguntaram sobre namorada ou família. Respondi automaticamente que não poderia falar sobre namorada, pois sou gay. Acho que foi uma das vezes que me senti mais apoiado na vida em relação a esse assunto. Jeff me elogiou pela minha coragem, pois ele sabia o quanto isso era algo difícil dentro da nossa comunidade. Desde esse dia, toda vez que eu o encontrava, ele fazia questão de dizer o quanto isso foi importante e o quanto ele gostava de mim e o quanto achava admirável o fato de eu ter orgulho de quem sou. Foi quando decidi que era hora de falar disso abertamente e já havia programado fazer isso através de duas frentes, sendo que uma delas seria uma entrevista na Black Media. Mas eis que meu amigo morre e logo depois o pessoal da SixStair, que produz o Loveletters to Skateboarding, entra em contato comigo perguntando se eu gostaria de participar do episódio especial sobre a comunidade LGBTQ. Nessa hora voltei a ter as mesmas dúvidas de quando me entendi que ser gay. No mesmo momento lembrei daquela conversa no carro, numa noite de fevereiro e decidi ter chegado a hora de não esconder mais. Sei que muita gente vai se identificar com isso e outros tantos vão usar o anonimato de uma tela para me xingar. Sei que tem muito cara que anda de skate, mas também é gay e morre de vergonha disso, pois afinal skatista é fodão e, na cabeça de muitos, ser gay te faz mais fraco ou menos digno de respeito. Aprendi que nada, nem ninguém, pode me impedir de ser eu mesmo. Ninguém deve ser impedido. Chegou a hora de não ter mais que pensar se posso ou não postar uma foto com o Luiz. Chegou a hora de não me preocupar se alguém do skate vai me ver em uma balada gay. Chegou a hora de não me policiar mais na hora de fazer um carinho na pessoa que amo. Chegou a hora de, finalmente, eu ser eu mesmo em todas as horas. E eu sou o Rodrigo, esse skatista brasileiro que é gay e que tem orgulho disso.”

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