Dave Parsons

Dave Parsons (Arquivo pessoal)

Lendo o livro do Beastie Boys, entre as dezenas de histórias deliciosas vivenciadas pelo trio, descobri um personagem muito interessante.

É o Dave Parsons, um cara que andava de skate, artista nato, empreendedor e influenciou fortemente toda nossa cultura atual.

Acho que sua importância é tão grande e curiosa, que pesquisei um pouco mais sobre a história do Dave e resumi aqui para o blog.

Na verdade, a biografia desse cara daria um belo livro, e até filme.

No capítulo “Mouth of the Rat“ Adrock conta:

Quando eu penso no Dave Parsons, minha imagem favorita é ele andando pelo East Village no seu skate. Ele ia até a agência dos correios na Fourth Avenue com Eleventh Street para conseguir um carregamento de novos discos para sua loja. No início dos anos 80, você não via muitos punk-rockers, ou skatistas, e isso fez eu me sentir tão orgulhoso que eu conhecia aquele punk de aparência engraçada no skate carregando aquelas caixas pesadas. Devia ter um meio mais fácil e eficiente de transporte de produtos, só que… ele queria andar de skate”.

Mas o que me deixou intrigado, é que Dave Parsons é o responsável por uma influente intervenção na arte do álbum homônimo do Bad Brains, lançado em 1981! Aquele raio amarelo destruindo o capitólio dos EUA ele desenhou em cima de uma ilustração de um artista chamado Mir.

Álbum de estreia do Bad Brains, de 1981. (Reprodução)

Eu acho que essa é uma das artes mais propagadas que saíram do universo do punk-rock. Um legítimo ícone que transcende o underground e é infinita a lista de cópias a parodiando.

Nas artes do disco de vinil, fita cassete e CDs, só é mencionado agradecimento a Rat Cage Records, nenhuma citação ao Parsons.

Dave morou anos na Flórida numa cidade chamada Boca Raton, onde foi casado e teve três filhos, antes de se separar e se mudar para Nova York. Por causa dessa origem, seus projetos eram batizados inspirados em Boca Raton, tipo o zine “Mouth of the Rat” e a loja/selo Ratcage Records.

A Ratcage era um ponto de encontro de uma molecada de Nova York, e entre os frequentadores estavam os adolescentes Adam Yauch, Mike Diamond e Adam Horovitz, que alguns anos depois se tornariam conhecidos como MCA, Mike D e Adrock.

Foi nessa loja que os três escutaram muitos conselhos, foram mentorados por Parsons e gravaram um single punk-rock.

Quando Dave Parsons estava mal de grana, ele morou um tempo com a nova esposa num quarto do apartamento da mãe do Adrock.

Depois de alguns meses, ele saiu do apartamento, se separou de novo e fechou a Ratcage, perdendo o contato com os pupilos.

Dave Parsons se mudou para Nova Orlens a convite de um amigo que sugeriu que ele fizesse interpretações do Charlie Chaplin na rua para sobreviver. Até então, Parsons não sabia nada sobre Chaplin. 

Sua atuação como artistas de rua fez tanto sucesso, que ele foi para Europa e trabalhou durante 15 anos como uma espécie de intérprete oficial do Charlie Chaplin.

MCA com a camiseta do Bad Brains (Masao Nakagami)

Depois de alguns anos MCA o localizou na Suíça. 

Dave já não trabalhava mais com interpretações do Charlie Chaplin, mas se tornou uma transformista chamada Donna Lee. 

Ela precisava de dinheiro para fazer a cirurgia de mudança de sexo e também estava com câncer.

O trio pagou pela cirurgia, mas depois de alguns meses, em 2003, David Lee Parsons morreu aos 58 anos na Suíça.

Sem Dave Parsons, o Beastie Boys provavelmente seria uma banda punk por alguns anos, e é isso. Nós nunca teríamos levado isso a sério. Nós nunca teríamos pensado que poderíamos fazer isso para ganhar a vida a menos que tivéssemos feito os primeiros dois registros para Rat Cage. Dave deu a todos nós crianças em algum lugar para estar. Um ponto de encontro para escutar música. Mas o mais importante, ele nos deu a noção de que ser um adulto não significava que você teria que desistir. Você pode viver muitas vidas diferentes em sua vida como você“, conta Adrock no livro.

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