Maikon Quaresma e o vídeo Amazônida

Eu conheci o Maikon Quaresma como Baraka e o chamava carinhosamente de Barakinha. Achava que o apelido era por causa do documentário Baraka, que é um dos meus filmes prediletos, mas ele disse que é por causa de um personagem de videogame que ele não gosta muito, e por isso alguns anos atrás encurtou para Bk.

Algumas semanas atrás recebi um link secreto pra assistir o “Amazônida”, vídeo solo do Bk, gravado em várias cidades do Norte do Brasil e um pouco em São Paulo. Assim que assisti o vídeo fiquei muito feliz, deu vontade de sair pra andar e mandar o vídeo pros amigos assistirem.

Nas vezes que vi ele andando em São Paulo, quando ele morou aqui uns cinco anos atrás, o cara sempre chamava atenção pelo skate exótico e pessoa super humilde e positiva. Um skate que me contagiou muito e fez com que eu me tornasse fã.

E quem não o conhece, tem a oportunidade de ver um dos skatistas mais raçudos e adrenados do Brasil.

Agora que o vídeo está online, posto aqui a entrevista que fiz com ele pra você ler antes de assistir!

Parabéns pelo vídeo, Baraka. Mas desde semana passada tô tentando te ligar e você não atende, o que rola?
Aqui tem muitas ligações de presídio, pessoal tentando dar golpes. Aí eu pensei que fosse isso. É complicado.

Você está no trabalho, pode falar?
Tô, sim.

Tá trabalhando onde?
No Ministério da Saúde. Secretaria especializada na saúde indígena.

Você é descendente de índios?
Não, não sou. Tenho só cara (risos). Devo ser, mas não tenho histórico que eu saiba. Ribeirinho, né? De beira de rio, que morava no interior, que pescava de canoa. Meu avô era assim. Nos anos 50 morava na beira de rio.

E agora você lançou o Amazônida, conta a história dele. Demorou quanto tempo pra você produzir?
A gente começou a produzir três anos atrás. Foi o seguinte, eu tinha feito o “Skate Salva” em 2010, e aqui tem carência de vídeos. E skate aqui é forte pra caramba. Só que como não tem mídia, começamos a pensar a dar um rolê de skate e fazer um vídeo legal. Só fazer uma coisa de rolê mesmo e fomos filmando. E também só filmando fim de semana e quando não chovia. Manaus chove demais. Então demorou tudo isso. Consegui viajar algumas vezes e foi fluindo o vídeo. Mas tenho a intenção só de me divertir, filmar e mostrar o skate do Norte.

Você viajou bastante pra produzir.
Viajei. Mas foi tudo por acaso. Pra São Paulo eu fui pela Ulick, que me mandou pra lá fazer umas filmagens. Porque, viajar pelo Norte é muito difícil.

Só de barco?
É, tudo fluvial. O avião aqui é muito caro. Se pra São Paulo é 600 reais, aqui pro lado, outro município do Norte sai mil reais. Está muito caro. No final de ano eu peguei aqui de Manaus até Santarém, depois subi pro Pará. Do Pará eu subi pra São Luis do Maranhão. Do Maranhão fui pra Fortaleza e depois Tocantins. Desci pra Brasília, dei uma passada no Rio e depois fui pra São Paulo. Fiquei pouco tempo mas fiz uma tripzinha bem legal. Bem mochileiro mesmo.

Mas você chegou a morar um tempo em São Paulo, né?
Cheguei, fiquei uns dois anos e meio. Fui nesse pensamento de dar um rolê de skate. Na minha cabeça era pra ficar quatro meses pra ver como é. Na verdade quatro meses não deu nada. Tive que ficar pelo menos um ano pra sentir alguma coisa. Então eu saí daqui, estava trabalhando, saí com o seguro-desemprego e depois de quatro meses não tinha mais dinheiro e fui me virando. Consegui um trabalho lá na Galeria (do Rock) com o Bruno (Araújo, da Skate Até Morrer), que o (Vitor) Sagaz me ajudou a conseguir.

Hoje você tá feliz aí em Manaus?
Me sinto feliz, é minha casa. Onde eu vivi a maior parte do tempo. São Paulo tem as paradas do skate, os picos, mais pistas, que aqui não tem. Só que aqui é o meu lar. É onde eu me sinto feliz porque tenho os amigos desde criança e tudo mais. E é raiz. Quando eu fui pra São Paulo ninguém conseguia entender o meu dialeto. É um dialeto do Norte.

Como é andar de skate em Manaus hoje em dia?
Andar de skate hoje em dia em Manaus é bem legal. Tem várias pistas. Não tem muitas, mas já tem bem mais que antes. Quando eu comecei a andar nos anos 2000, não tinha pistas de skate como tem hoje. Tinha que ir num bairro, com a galera, procurando alguém que tinha obstáculos. Tinha que fazer obstáculo na rua de casa. Era muito louco. Hoje em dia está bem melhor. Imagina antigamente, antes dos anos 2000. Tem uma Era muito famosa aqui, que era na Praça do Congresso, onde o pessoal começou a andar de skate aqui em Manaus. Em meados dos anos 70 pra 80, o começo de tudo foi lá. Mas hoje em dia tá bem bacana. Hoje em dia tem bem mais skatistas. Antigamente você tinha que procurar os skatistas pelos seus bairros, era muito difícil ver skatistas pelas ruas. Hoje em dia você está passando pela rua e vê o cara passando de skateboard. Coisa que eu via em São Paulo direto. Além do skate ser uma coisa pra se divertir numa skatepark e na rua, o pessoal se locomovendo. Eu não via isso aqui antes.

No Amazônida você anda nuns picos muito rústicos. Pra você, é natural isso?
É, sim, é natural. Aqui nunca tem um pico perfeito. Em vários lugares os caras falam que o pico não é perfeito, mas aqui, além dos picos não serem perfeitos, são rústicos – aqui é uma cidade antiga, foi modificada pra modernidade; o clima é muito quente. Muita gente se assusta quando vem pra cá. Não conseguem andar por causa do calor. Mas os picos aqui são bem difíceis. E o fato de aqui ter muita chuva e o sol ser muito forte, o piso vai se deteriorando. Pra embalar com o skate é muito ruim também. Acaba tendo essa dificuldade a mais. E os picos do Amazônida são naturais do Norte, picos bem difíceis, bem do Amazonas mesmo. Difícil de andar, mas são lindos, rústicos e exóticos de andar.

Você é um skatista exótico (risos). Quais foram suas influências pra ser tão insano? Quando te vi andando aqui em SP foi impressionante demais!
Eu me acho exótico! Tipo, eu vou pros lugares e sou bem regional de Manaus, do Amazonas. Cara totalmente de indígena. Tem muita gente se confunde pensando que eu sou indígena. Mas eu me sinto exótico por ter uma vida contemporânea, que eu conheço São Paulo e mesmo assim sou um caboclinho do Norte. Isso é ser exótico, ser diferente dos outros, tenho dialeto diferente.
E minhas influências foram o começo de tudo no skate. Lembro que quando eu comecei a andar de skate, estava tentando dar flip, e o pessoal falava pra eu começar com o ollie, me divertir mais. Hoje em dia o pessoal pensa mais em fazer manobras e se esquecem da diversão. Minhas influencias foi todo esse pessoal que anda até hoje. Tem muitas, já passei por vários lares, várias casas, vários amigos. E até hoje eu tenho essas amizades. Cada pedacinho desse pessoal é minha influencia. Cada pessoa tem um estilo diferente e eu fui captando cada um, olhando cada um se divertindo ali. E quando fui pra São Paulo então, depois de tomar vários açaís daqui, que é uma coisa bem forte.
O pessoal até tira onda comigo por causa do açaí. Então teve um tempo que eu só tomava açaí e estava bem energizado. Como aqui é rústico de andar, eu tinha o poder maior lá. Porque lá eu achava tudo perfeito. Então não tinha limites de andar, de ser agressivo. Eu tentava me divertir e as pessoas achavam que eu estava sendo insano. Mas de insanidade eu não tenho nada, eu só quero me divertir, embalar ser o mais radical possível no meu skate.

Baraka é um apelido que te deram em São Paulo?
Não, o apelido é de Manaus mesmo. Logo no começo do skate, no primeiro ano, coisa de moleque. Como meu dente é bem afiado (risos), o pessoal zuava comigo. Depois de um tempo, agora poucos me chamam de Baraka. Eu acabei encurtando pra Bk pra ficar mais compacto. O Baraka virou Bk agora.

Desculpa, eu não sabia, Barakinha! Agora só vou te chamar de Bk, então. Mas o que significa Baraka?
Eu podia te dizer que Bakara quer dizer natureza, os sons… Tem até um documentário falando sobre isso. Mas na verdade é um personagem de videogame. Baraka do Mortal Combat, que tem os dentes afiados. Foi uma zoação que eu não gostei e ficou. Mas agora o meu nome é Bk. Maikon Quaresma Bk (risos).

Eu achava que era por causa do documentário!
Claro que não, Arakaki! Depois de muito tempo o pessoal me mostrou o documentário. Quando rolou o apelido eu era molequinho, e foi do Mortal Combat mesmo.

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