Entrevista com Luan Oliveira de 2008

Essa é uma das primeiras entrevistas que fiz quando comecei a escrever para a ESPN, em 2008. Foi publicado numa plataforma antiga que foi desativada e não guardei backup. O ex-editor do site dos X Games Brasil, Aguinaldo Melo, achou o arquivo que mandei pra ele na época e publico aqui no blog, porque é importante esse registro estar online.

O Luan ainda não era popular, mas desde sempre um gurizão excepcional. Relendo agora, fico refletindo como tantas coisas aconteceram nesse tempo. Na verdade, logo depois dessa entrevista, as coisas começaram a acontecer numa velocidade além do normal. E hoje se tornou o skatista brasileiro mais popular que conhecemos. Mas continua sendo a mesma pessoa alegre e gentil que conheci quando ele devia ter uns 11, 12 anos…

Luan Oliveira em 2008 (Arquivo pessoal)
Luan Oliveira em 2008 (Arquivo pessoal)

 

Quando Luan de Oliveira chegou pela primeira vez nos EUA era um mero skatista anônimo. Alguns dias depois, quando venceu o importante GvR, sua vida mudou repentinamente. Seu talento foi reconhecido internacionalmente. Entrou nas marcas Globe e Flip e começou a viajar com os dois times para filmar, mundo afora. Sua parte no Extremely Sorry, da Flip Skateboards está sendo aguardada com muita ansiedade. Numa pausa entre as filmagens finais, Luan concedeu essa entrevista exclusiva, direto da Califórnia, após uma exaustiva viagem que passou pelos Estados do Arizona, Texas e New Mexico.

Onde vocês estão?
Agora nós estamos na casa da Flip, aqui em Long Beach.

Acabou a turnê?
Sim, acabou ontem. Fomos para casa do Geoff Rowley fazer um churrasco e comemorar mais uma tour da hora.

É tranquilo comer churrasco americano?
Nossa, se eu te falar que é uma porcaria, você acreditaria?

Claro, por isso tô perguntando. Explica as diferenças.
Diferença que o churrasco do Brasil tem gosto e você pode deixar na geladeira para comer no outro dia tranquilo, que não perde o gosto. E o churrasco americano passou uma hora, já tem que jogar no lixo, porque a carne fica dura, com cheiro ruim. E dá dor de barriga.

Você é daqueles gaúchos viciados em churrasco, que domina a churrasqueira?
Única vez que eu tentei assar uma carne, assei demais. (risos) Ou melhor dizendo, FRITEI.

Explica aí esse teu amor pela Califórnia.
Meu amor pela Califórnia? (risos) Vou explicar bem então. Um dia, tava conversando com meu amigo CESAR LESGAL e ele me disse que a Califórnia era ruim, que era bom para ganhar dinheiro, e tudo mais, só que para viver era muito ruim porque os americanos são muito frios, cada um por si e já era. Só que eu não acreditava. E, daí, o primeiro dia que eu cheguei, ‘mó’ feliz olhando para tudo, tudo era uma maravilha. Mas depois de uma semana eu vi que nada era uma maravilha e eu vi que estava no inferno. Antes de ganhar o campeonato Goofy vs Regular ninguém me olhava, ninguém dava bola para mim. Para eles, eu era qualquer um, mas depois que eu ganhei, tudo mudou, parecia que me conheciam a muito tempo, batiam nas minhas costas falando parabéns, pedindo meu número de celular e tudo mais. Depois disso peguei ódio da Califórnia.

Mas antes de chegar aí, era teu sonho, como de qualquer moleque do Brasil?
Na verdade, nunca foi meu sonho, falando a verdade. E claro que era muito diferente do Brasil, mas sonho de ficar louco para chegar aqui, nunca.

E como está sendo andar de skate como profissão? A pressão influi na diversão?
Nunca andei de skate por profissão. Até hoje não ando. Tipo ontem, estava andando na casa do Geoff, numa mini ramp. E tinha mais um caixote em cima da mini ramp. Daí, eu tava tentando smith vindo da rampa. O cara viu e falou “vamos filmar isso” e eu disse, “não gosto de pressão, só estou andando por amor”.

Já que você tocou no assunto, como vão indo as filmagens pro vídeo da Flip, o Extremely Sorry?
Estou filmando mais do que pensava. Acordo 9 da manhã, saio para andar e volto só 11 da noite, cansado e cheio de sangue. Tá rolando muita coisa boa. Para quem está na espera de muito tempo não vai se arrepender!

Porque os vídeos mais esperados são sempre adiados perto do lançamento?
Porque quando os outros vídeos, de outras marcas, saem antes, e você percebe que ele é bom, você vai querer fazer um MUITO MELHOR.

Qual a previsão agora?
Agora é certeza, para março de 2009. O vídeo está pronto praticamente. Mas sempre tem um tempinho para adicionar mais algumas manobras!

Qual vídeo você acha que foi o melhor de 2008?
Não teve nenhum que eu me impressionei, mas eu gostei de algumas partes, tipo do Gilbert Crocket, no Ride the Sky, da Fallen. A parte dele é legal. Tem bastante flips…

Foi a Falllen que fez a Flip adiar?
Não, foram uns problemas com os skatistas, várias coisas aconteceram. O Arto saiu do time, a mãe do Rodrigo Teixeira infelizmente faleceu. Eu odeio colar na Califórnia, então são vários problemas.

Se o Extremely Sorry fosse lançado esse ano, quem seria o Skatista do Ano, da Thrasher Magazine?
DAVID ‘ENCAPETADO’ GONZALEZ , com certeza! Vocês não tem noção no que está por vir. Isso vai fazer o skate evoluir demais!

Então você tá profetizando que ele será o SOTY de 2009?
Sim, eu tenho quase a certeza que sim. Ou ele ou o Geoff de novo!!!

Achou justo o Silas Baxter-Neal ganhar esse ano?
Então, nós estávamos na van da Flip, daí o Jake Phelps (editor da revista Thrasher ligou pra gente e falou assim: “vocês já sabem quem é o SOTY?” E todos, “NÃO”. E ele disse “por incrível que pareça, SILA BAXTER NEAL”. Achei estranho ele ganhar isso.

Quem merece seu voto?
Mister Geoff Rowley!

Depois que sua parte for lançada, já vai rolar o pro-model?
Isso é uma coisa que eu não vou ter certeza para te dizer, meu amigo Sidney. Mas já começamos a conversar sobre isso.

Explica aí como é esse lance de profissionalização nos EUA. Bem diferente do Brasil.
No Brasil, para você passar para profissional, você precisa ganhar vários campeonatos, estar sempre ali na mídia, e aqui nos EUA é diferente. Você vai lá, faz uma parte de vídeo sinistra, de deixar todo mundo de boca aberta e pronto, passa para profissional e bomba como profissional!

Aqui no Brasil a molecada não valoriza os produtos assinados pelos skatistas profissionais. Você acha que é por isso que a indústria brasileira não funciona?
Na verdade, acho que sim, pois os moleques poderiam parar e pensar em vez de comprar um shape da Hardply e ir numa loja e comprar um shape da Dynamic, model do Biano Bianchin! E também acho que as indústrias brasileiras são muito apuradas, querem ganhar dinheiro a qualquer custo. Uma vez fiquei sabendo de uma marca que tinha umas máquinas de prensar shapes e podiam prensar 5 de cada vez, e eles acabavam prensando 10 de cada vez para os shapes sairem mais rápidos. Para eles venderem para as lojas e ganharem dinheiro com um produto que desfolhava em menos de uma semana, por uma diferença de dez horas, em vez de deixar na máquina para prensar perfeito! Acho que é por isso.

Uma vez o Alexandre Cotinz me falou que um moleque comprou um shape que foi teu, que nem dava mais pra andar, por R$ 50. Comprou por ser do LUAN DE OLIVEIRA, pra pendurar na parede. Imagina quando sair teu model.
Na verdade foi assim, o moleque viu que eu estava com o shape mas eu não queria vender. Daí, ele disse que dava 50 reais, e eu disse “não, eu não quero vender, cara”. Daí ele fico insistindo muito e acabei dando o shape. Ele me deu a grana e resolvi não recusar!

Quando você volta ao Brasil?
Graças a Deus, dia 10, com o Ewan (videomaker), Harry (team manager) e o Tom Penny. Vamos para Brasília para filmar.

Luan Oliveira em 2008 (Arquivo pessoal)
Luan Oliveira em 2008 (Arquivo pessoal)

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