Edgard Vovô fala sobre skate e equipamentos para andar na Mega Ramp

Em 2009, poucos dias depois dos X Games de Los Angeles, conversei com o Edgard Vovô sobre o skate e equipamentos usados para andar na megarrampa e o evento que aconteceria em São Paulo em alguns meses. A entrevista foi para o site da ESPN.
Republico aqui a transcrição da conversa que foi ao ar no antigo site da ESPN.

Edgard Vovô e o skate de Mega (foto: Sidney Arakaki)
Edgard Vovô e o skate de Mega (foto: Sidney Arakaki)

Fala pra gente, quais as principais diferenças desse skate de Mega.
A diferença do skate de vertical para o de mega é só o shape e o eixo. As rodas e os rolamentos são os mesmos. E o shape é um pouco maior. 8 polegadas e meia de largura. E agora não me lembro exatamente do comprimento, mas são uns cinco dedos maior que o de vert normal. E os eixos que a gente usa no vert é 139 mm, 149mm, no máximo. Esse (de Mega) é 179mm, e chegamos a usar até 189mm. No skate de Mega as únicas coisas que mudam é o shape e os eixos.

Você disse que o Ueda tá desenvolvendo umas rodas pra mega.
Não é assim exatamente rodas pra mega. A gente tá pegando umas rodas que dê menos velocidade. No vert a gente quer mais velocidade e na Mega a gente quer menos. Então eles tão desenvolvendo uma roda um pouquinho mais mole, com a mesma durabilidade, tal, mas que ande um pouquinho menos. E tá diferente. A gente tá testando as rodas e logo mais vai sair, eu acho. E é bom terem dois modelos de rodas diferentes. Uma escorrega um pouco mais, por ser mais dura, e a outra um pouco menos. Essa nova vai ser bem legal.

O que desgasta mais nesse skate?
Tem vez que é uma sessão, tem vez que dura uns 15 dias. Porque ele bate, as porradas são muito fortes, então ele quebra muito. Não quebrar o shape. Sai lascas muito mais fácil que os de vertical. Pela velocidade da porrada, então ele zoa muito rápido. E dependendo de como pegar o eixo, é uma só. Bateu ele estoura. Entorta. Por ele ser muito largo, muito comprido, entorta fácil.

Você tá comprando, ganhando peças? Como é o esquema?
Não tô comprando material. Shape eu tô usando da Create Skate, lá dos EUA, eles me dão shapes. E do Bob também. Eixos eu tô usando Independent, que o Bob me dá. Ele é da Indy. Então não tô comprando, ainda bem. Porque é caro.

Esse eixo é desenvolvido pra megarrampa ou é de longboard?
Não. É totalmente diferente. Ele é desenvolvido pra megarrampa. Acho que em conjunto com o Bob, Danny (Way) e a galera ali, eles desenvolveram esse eixo pra megarrampa.

Todo mundo só anda com Indy ou tem outra marca?
A Tracker tem um eixo que eu usei um monte de vezes. Na verdade, Indy a primeira vez que eu usei foi esse ano. E usei um ano e pouco o Tracker. E é muito bom também. Acho que até um pouco mais forte, que não entorta tão fácil como o Indy. Então tem esses dois. Mas o Tracker já era de um skate maior e eles adaptaram no skate de Mega. E não chega a ser exatamente do mesmo tamanho. Ele é um pouquinho menor.

O que aconteceria se alguém com skate convencional, mesmo de vertical,  dropasse da Mega?
Aconteceria o pior. Só do cara tentar dropar, a estabilidade não é a mesma. Você não conseguiria ficar em cima do skate, pelo menos metade do drop. Você já cairia. Ele não dá a estabilidade necessaria que esses eixos dão. Esses eixos você sente muita estabilidade. Ele é muito duro, bem diferente do que a gente anda (no vertical). A gente aperta no talo. Tem que usar a borrachinha mais dura. Por exemplo, eu tentei usar uma borrachinha Indy, aquela amarela, e sem chance. Eu apertei até o talo e não adiantava. Ficava mole e não tinha como andar.

Skates de Vertical e Mega. A diferença é visível (foto: Sidney Arakaki)
Skates de Vertical e Mega. A diferença é visível (foto: Sidney Arakaki)

Esse amortecedor é próprio pra mega também?
Não sei se é próprio pra mega, mas a gente pega uns amortecedores de não sei nem de que marca. De repente é um Doh Doh preto, que eu uso. Um Fury preto. Então é esses que a gente usa. Mas acho que não é desenvolvido pra megarrampa. Não sei pra que eles usam esse tipo de borrachinha, mas deu certo.

E o equipamento de proteção?
O equipamento, o que a gente reforça, é a jolheira, um pouco mais resistente, mais alta, porque ela tem que aguentar mais o impacto. A cotoveleira também é um pouco maior. Capacete é normal. O que a gente não usa no vert é caneleira, os neoprenes com ferrinhos, pra segurar o impacto, o colete, que é especial de moto e caiu muito bem pra megarrampa. A gente consegue usar ele normal, não é pesado. E luvas. Luva é essencial. Sem luva você frita a mão ali, facinho, de bobeira. A gente usa uma luva de motocross.

A armadura para andar na Mega (foto: Sidney Arakaki)
A armadura para andar na Mega (foto: Sidney Arakaki)

Você tá usando uma junção de equipamento de motocross com skate pra andar na mega.
Exatamente. A junção do skate com motocross. A gente acrescenta. O que é acrescentado, é tudo de motocross. O resto é o que a gente já usa no skate. Isso é bem legal que deu certo e não precisou desenvolver uma coisa a mais. E, fora isso , a gente usa também, embaixo de tudo, uma calça e uma blusa de manga comprida de lycra. Aí vem o equipamento em cima. Tem a bundeira também, que é do motocross. No skate não é todo mundo que usa e é só espuma. No de moto tem casquilho, que aguenta bem a porrada e consegue escorregar sem se machucar, entendeu? Então tudo isso é necessário, senão complica.

E agora, depois dos X Games, qual é sua programação?
Treinar aí, não sei. Acho que vai ter o Gas Festival, vamos ver o que vai rolar. E daqui 40 dias mais ou menos tem a Mega Brasil. Expectativa total pra esse evento. Depois de um mês tem a Mega Australia. Depois eu volto pro Brasil. Vai ter alguma coisa aqui, alguma coisa nova, vamos esperar, não tá confirmado muitas coisas. E vira o ano e começa tudo de novo, né?

O que você já pode falar da Megarrampa no Brasil?
O que eu posso falar, é que tá totalmente confirmado. Todo mundo pode ficar na expectativa que vai rolar mesmo, tá confirmadíssimo. E, pô, a galera vai estar em peso aí. Jake Brown, Bob, acho que o Danny vai estar aí de novo. Vamos ver se ele vai correr, porque ele tá com problema no joelho, no pé, mas até lá acho que de repente ele se recupera e a gente vai ter a graça de ver ele andar aqui no Brasil. Não sei se ele vai competir, mas com certeza ele vem. E vamos torcer pra que esse ano o Pierre (Luc Gagnon) venha, porque ano passado não veio. Bucky (Lasek), que também anda bastante. O resto da galera também vai estar aí. Vamos esperar, porque vai ser bacana.

Vai ter o Rail também?
O Rail não tô sabendo de nada. De repente, não sei bem como vai ser. Não sei bem o cronograma do evento, mas de repente eles fazem alguma coisa diferente. Uma demo pelo menos. Seria bacana, pra galera ver realmente de perto. É diferente você ver na televisão. Ao vivo é outra coisa. Então tomara que sim.

Você chegou a andar no Rail?
Cheguei e é bem difícil. Vou te falar que o negócio é grande. Mas dá pra andar. Eu cheguei a tentar andar, mas como o Bob tava com muita pressa, faltando cinco dias pros X Games e ainda não tinha montado o Rail, então só o Bob mesmo tava ajustando. E no último dia, faltando um dia pros X Games, eles treinaram. O pessoal que correu. E eu não queria atrapalhar a galera.  Como eu não ia correr o campeonato, nem andei. Mas eu tentei dar um rockslide e vi que dá pra rolar umas manobras. E como eu corri o Maloof (Money Cup), que teve o mini mega com rail, foi a primeira vez que eu andei num corrimão, que já era grande pra mim, eu consegui dar uma cinco manobras. Foi divertido pra caramba. É bem divertido, bem diferente do street. Tem que ter a base do street, a base do vert, porque a velocidade do vertical e a base do street, de encaixar no corrimão e tal. Base do trilhozinho é o mesmo esquema. Mas é diferente de tudo que eu já tinha andado. Bem divertido mesmo.

Agora você vai ficar um tempo sem andar em mega. Vai andar direto no evento aqui em São Paulo.
Então, eu tô preocupado com isso na verdade. Faltam 40 dias pra Mega Brasil. Meu filho tá nascendo, então não sei se vou ter tempo de ir pros EUA treinar. Então eu acho que vou ficar esses 40 dias sem andar na mega. Vou ter que andar ali na hora. Você fica ali preocupado, porque quanto mais base você tiver, melhor, né? Pra mim, por exemplo, eu nunca perco o medo. Cada drop é um drop diferente, então eu sempre tenho medo de andar na megarrampa. Ficar tanto tempo sem andar assim, apesar que eu ando, por ano, no máximo, dois, três meses. Eu fico quatro, cinco meses sem andar, vou lá, ando 20 dias, volto, fico quatro, cinco meses sem andar. Mas vai ser o jeito que tiver que ser. Se der tempo vou pelo menos uma semana lá treinar.

Sobre julgamento, o que rolou ano passado aqui em São Paulo e esse ano nos X Games, você acha que tá certo, tem que mudar as regras e o conceito?
Eu acho que todo mundo viu os X Games ali. É óbvio que as manobras do Bob foram mais difíceis que do Jake. Tem que ver que eles tavam julgando a altura do Jake, que realmente deu um twist muito alto. Nem ele tinha dado anteriormente. Mas fazem três anos que ele tá fazendo o mesmo combo. Até eu, que fiquei em quinto lugar fiz o mesmo combo que ele. Mas aí tem estilo, um monte de coisas que contam. É difícil falar, mas pra gente que anda, com certeza, um indy air 360 seria muito mais difícil. O que é estranho, é que os juízes da megarrampa não são caras que andam na megarrampa. Esse X Games por exemplo, o Christian Hosoi e o Steve Caballero já andaram, não chegaram a dropar, mas andaram na mini mega, sabem da dificuldade. Agora, o Rune eu nunca vi andar. Um tal de Dave Mett, não conheço, não sei quem é. Então acho que seria legal pegar pessoas que já tenham alguma experiência, como o Chris Miller, que já anda. Tem pessoas que já têm experiência e sabem da dificuldade. Porque é difícil. Imagina você pegar um cara que anda no street pra julgar no vertical, ou vice-versa. Pegar um cara do vertical pra julgar street. É complicado. Mas, ao mesmo tempo, todo mundo que anda na megarrampa tá ali competindo. Não sobra ninguém pra julgar. Então é difícil. Acho que aos poucos a galera vai se acertando e vai saber o julgamento. E tem um monte de coisas que envolvem. Acho que aos pouquinhos vai chegar num nível certo.

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