Entrevista com Wallace “Belo” Mendes

Uma das crias mais respeitadas da cena carioca, Wallace “Belo” Mendes, acaba de lançar seu primeiro pro-model de shape. A marca Aggou, do seu mentor Marcello Gouvea, agora tem o modelo assinado para vender nas lojas do Rio de Janeiro.
Belo tem características que não são visíveis em seus vídeos e fotos, como a determinação para acertar manobras em lugares difíceis, que muitos skatistas sequer tentariam andar. No Rio essa fama é conhecida e é um dos motivos pelo qual é tão respeitado e cobrado para se profissionalizar. Infelizmente a confederação brasileira de skate não aceito seu pedido para se tornar um skatista “profissional oficial”. Mas Belo segue em frente com sua calma e humildade tão inspiradora. Nessa entrevista, falamos sobre essa negativa da CBSk, o lançamento do seu pro-model, a breve carreira jogando futebol profissionalmente e os planos da sua marca de rodas.

Pop shove it (Divulgação/Leandro Moska)
Esse pop shove it em Itupeva é uma das manobras do vídeo que lança o pro-model pela Aggou (Divulgação/Leandro Moska)

Ter seu pedido de profissionalização negado pela confederação brasileira de skate te deixou chateado?
Sim e Não… Quando surgiu a ideia de profissionalização e pro-model pela Aggou, marca criada pelo Vitor Aguiar e Marcello Gouvea, sabíamos que essa reprovação já tinha acontecido com vários nomes conhecidos do skate no Brasil, e que também poderia acontecer comigo, então antes de mandarmos o pedido para CBSk, já tínhamos mandado fazer a arte do shape, e que iríamos mandar o pedido. Mas se por acaso a CBSk encrencasse, faríamos o que muitos desses nomes que foram reprovados fizeram, continuaríamos o projeto do model independente de aprovação. E foi o que aconteceu… O que me deixou chateado foi o seguinte, eu não surgi ontem no skate, a caminhada foi longa, é difícil fazer uma entrevista em revista, e eu consegui fazer três, sendo uma recente na Tribo. Além de inúmeras fotos publicadas e duas partes de vídeo boas. E parece não ter muito critério esse lance de profissionalização. Mas nada que vai atrapalhar a correria, seguimos na luta.

belo-promodelNo final do ano você vai ter tentar o aval da CBSk novamente?
Acredito que devo tentar sim. Achei que essa análise foi um pouco injusta pela quantidade de trampo que já fiz. Espero que da próxima vez eles possam olhar com mais cuidado meu currículo, que tem uma bagagem legal.

O Ricardo Dexter também não foi aprovado como profissional. Isso te consola?
Não, até porque os currículos são analisados individualmente. Essas paradas vão sempre haver alguma injustiça. Infelizmente, aconteceu com ele, comigo e vários outros caras que a gente nem imagina. Só que são poucos que se sentem à vontade pra falar do assunto.

Como amador você nem competia mais, estava só empenhado em gravar as manobras e fotografar. Você queria competir como profissional também?
Na verdade, não curtia mais viajar pra outra cidade pra ter que competir. E aqui no Rio, como está bem parado de campeonato, acabava que ficava sem competir. Mas meu foco sempre foi fotografar e filmar, campeonato sempre foi diversão. Como profissional pretendo participar dos eventos sim. Em fevereiro ganhei um Best Trick Profissional no parque de Madureira realizado pela Faserj. Já os da CBSk, acho que não vai ser possível até regularizar isso aí.

Belo e o filho Mateus na sessão (Arquivo pessoal)
Belo e o filho Matheus na sessão (Arquivo pessoal/Bruno Netto)

Você ainda está trabalhando com radiologia?
Ainda trabalho com radiologia. Plantão aos sábados, 24 horas. Entro 7 da manhã de sábado e saio 7 da manhã de domingo, depois fico livre pro skate e pra família de domingo a sexta…

Aqui no Brasil tem muitos skatistas profissionais com trabalhos paralelos. Mas a maioria ainda quer só andar de skate. Nos EUA tem muitos skatistas profissionais renomados com empregos paralelos. Você trabalha feliz ou fica se lamentando que queria só andar de skate o dia todo?
Então, o que mais me atraiu e me fez trabalhar nessa área foi a carga horária, porque acabo tendo a semana inteira livre. Gosto do meu trabalho, graças a ele pago minhas contas, cuido da minha família, me possibilitou realizar o sonho de ter uma marca. Não é o emprego dos sonhos, mas é muito importante pra mim e dou muito valor a isso. E é lógico que como trampo exatamente no sábado, tem semanas que lamento também (risos).

Você tem apenas 27 anos e uma história de vida intensa. Já tem um casal de filhos e num intervalo de tempo jogou futebol profissionalmente. Resume essa história com a bola.
Exato. Teve uma época da minha vida que tive que dar um tempo no corre do skate pra trabalhar, por que minha filha estava pra nascer. Trabalhava o dia todo e já não andava de skate, porque nessa época eu morava em Campo Limpo Paulista, em São Paulo, e a pista fechava 18h. Eu chegava do trampo e não dava tempo de andar. Daí surgiu uma oportunidade de me profissionalizar no futebol, que meu sogro arrumou. Ele sabia que antes de eu andar de skate eu jogava no América do Rio de Janeiro e insistia pra eu tentar. Como eu não tinha mais nada a perder resolvi tentar e fiquei durante apenas oito meses jogando bola, depois resolvi voltar pro Rio de Janeiro trampar, estudar e fazer o que gosto e faço até hoje, que é andar de skate.

Do futebol profissional, o que você usa de positivo para o skate hoje em dia?
Cara, são muitas coisas diferentes, foi uma experiência maneira que vivi, apesar de pouco tempo. Mas o que eu ficava impressionado era pela valorização que os jogadores tinham no clube. Pra você ver, uma vez torci o tornozelo no treino e ficavam duas pessoas todos os dias só pra cuidar do meu tornozelo torcido até melhorar. No skate, se você não se cuidar fica fundido mesmo, não tem jeito (risos).

Mas a grana no futebol foi boa pelo menos?
Deu nada (risos). No time que eu jogava, a galera jogava três meses pra receber um. Bagulho doido. Muita ilusão, muitos sonhadores, não muito diferente do skate em relação a viver da parada. Muitos tentam e poucos conseguem.

Frontside Nosebluntslide (Arquivo pessoal)
Nollie shove it frontside Nosebluntslide numa praça do Rio de Janeiro (Arquivo pessoal/Rodrigo Porogo)

Nesse vídeo de lançamento do seu pro-model pela Aggou você anda em muitos picos diferentes. Onde são e quanto tempo durou a produção?
Então, na verdade estou a algum tempo filmando pra minha parte no VTV, que está prevista pra julho, e tinha muita imagem reject que não queria usar na minha parte. Esse vídeo do model seria quase tudo reject do VTV, só que o vídeo estava ficando bom e resolvi melhorar ele, mesmo tendo guardado as principais imagens pro VTV. Acredito que consegui fazer um vídeo legal pro model também. Espero que a galera goste.

Qual o plano do VTV? O que pode adiantar?
VTV é o seguimento do DSAL e acredito que vai seguir a mesma linha de edição. Só que agora só com imagens HD. Previsto pra julho e bastante esperado.

VTV quer dizer “Vai Trabalhar, Vagabundo”. Tudo a ver com a sua profissionalização. E é um vídeo, como sempre, independente, sem patrocinadores. Vocês tiram grana do bolso para produzir, viajar, e até comprar tênis e peças pra continuar andando. Vagabundos não fazem isso…
Pois é, pelo contrário. Trabalhamos e muito pra fazer algo bem feito e que a galera curta. Esse lance com a profissionalização só me motivou pra fazer uma parte melhor dos que as que já fiz.

Agora você tem uma marca de rodas, a Sinah. Como empresário, sua visão do mercado mudou?
Sou um iniciante, tendo muito o que aprender. É bem difícil conseguir colocar seu material nas lojas, mesmo que seja de qualidade. Dar cota pra skatista é difícil porque às vezes o pouco pro cara é muito pra você e muitos não entendem isso. E eu mesmo só vim ter noção disso hoje que fiz a Sinah. Graças aos caras que estão na marca, está sendo possível o crescimento dela aos poucos, todos eles abraçaram a causa e entendem que é só o começo. Tenho boas ideias pra fluir pra todos da equipe, só que o mercado é muito doido, já começamos o ano muito mal, com o dólar alto demais e essas coisas dificultam demais. Mas estamos firmes na luta.

Frontside smithgrind (Arquivo pessoal)
Frontside smithgrind em Itupeva, interior de São Paulo (Arquivo pessoal/Michael Henrique)

Mas ao mesmo tempo que o dólar está alto, os skatistas vão optar pelas peças nacionais com preços mais em conta que as marcas importadas. Porque tem muitas marcas conceituadas de fora que estão no Brasil e a Sinah consegue superar em qualidade. Pode ser uma oportunidade.
Esse lance do dólar afeta a Sinah diretamente, porque apesar da roda ser fabricada no Brasil, o uretano é importado. Como esse aumento do dólar é uma parada recente, estamos vendo como o mercado vai ser comportar ainda.

Quais suas principais influências para ter chegado até nesse estágio? E porque?
Em relação a skate, minhas influências sempre foram meus amigos mesmo. Marcello, Igor, Bahia, Alastrão, Moska, Casquinha, Monikão, Napele, Indio, Batman, Magal, Yan JhyWu, vários… Em relação a Sinah Skateboard, era um sonho antigo, que faltava oportunidade e conhecimento. Diante do surgimento da Aggou e o fato do meus horários terem se estabilizado no trabalho, achei que fosse a hora certa. Graças a Deus está fluindo. Devargarzinho, mas está.

Pra finalizar: onde a galera pode achar os produtos da Sinah e seu pro-model da Aggou?
Se for no Rio de Janeiro, acredito que em 70, 80% das lojas. Em outros Estados ainda estamos expandindo aos poucos, fechando distribuições com cautela pra não termos dor de cabeça no futuro. Ou então pode entrar em contato pelas páginas das marcas ou site: www.facebook.com/sinahskateboard e www.aggouskateboarding.com.br

Ah, mais uma! Você pode responder o que significa Aggou ou pergunto pro Marcello?
AGGOU é abreviação dos sobrenomes de Vitor Aguiar e Marcello Gouvea, que são os criadores da marca.

Assista o vídeo de lançamento do pro-model de Belo pela Aggou.

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