Skatista diabético, Jonatas Samambaia conta sobre a sua vida normal com a doença

Samambaia (foto: Fernando Martins)
Skatista diabético, Samambaia diz que leva uma vida normal (foto: Fernando Martins)

A Diabetes fez uma vítima fatal que entristeceu o mundo do skate há algumas semanas. O australiano Lewis Marnell morreu em consequência do alto nível de glicose no sangue. Marnell não tomou insulina para controlar a glicose e se foi precocemente, aos 30 anos de idade.
Pouco se sabe sobre a doença e os diabéticos, mas quando li a notícia sobre o motivo da morte do Lewis Marnell, logo me lembrei do Jonatas Samambaia, skatista da zona sul paulista, que assim como o australiano, é rastafári e diabético. Aí liguei pra ele pra bater um papo sobre a doença e a influência dela na sua vida de skatista. Porque, se machucar no skate é inevitável e um dos principais perigos de quem sofre de diabetes é a dificuldade de regeneração de lesões.
Segundo a Wikipedia, a “Diabetes mellitus é uma doença metabólica caracterizada por um aumento anormal do açúcar ou glicose no sangue. A glicose é a principal fonte de energia do organismo porém, quando em excesso, pode trazer várias complicações à saúde como por exemplo o excesso de sono no estágio inicial, problemas de cansaço e problemas físicos-táticos em efetuar as tarefas desejadas. Quando não tratada adequadamente, podem ocorrer complicações como ataque cardíaco, derrame cerebral, insuficiência renal, problemas na visão, amputação do pé e lesões de difícil cicatrização, dentre outras complicações.”

Fakie laser flip (foto: Sidney Arakaki)
Fakie laser flip (foto: Sidney Arakaki)

A família de Jonatas Santos Mota descobriu que ele tinha a doença aos dois anos de idade. “No primeiro momento, quando foi constatado o resultado, foi um choque, pois os valores normais de glicemia são de 70 a 120 mg/dl, e o meu, com apenas dois anos, foi de 442 mg/dl. Minha família ficou totalmente abalada, pois além das dificuldades financeiras, não tínhamos nada de informações a respeito da doença. Após algum tempo conseguimos uma vaga no hospital Darci Vagas, onde me tratei por muito anos. Minha avó, dona Ana Maria dos Santos, conta que levantávamos muito cedo, por volta de 3h30 da manhã para que não perdêssemos a vaga para fazer os devidos exames. Ela conta também, que já precisou me levar nas costas ao médico devido a falta de ônibus”.

K-Grind (Arquivo pessoal)
Skate terapêutico: Controlando a glicemia na chuva (Arquivo pessoal)

A fase mais difícil da doença foi na infância. “Pelo fato de ser criança, não conseguia controlar o diabetes. Comia vários doces escondido. Cheguei a ficar internado várias vezes com hiperglicemia, que é o excesso de açúcar no sangue”, diz. Mas o drama acabou com uma ajuda divina. “Um certo dia, minha mãe estava atendendo uma cliente na loja em que trabalhava. Era Dona Valéria Fontana, filha de Omar Fontana, dono da empresa aérea Transbrasil. Conversando, disse à minha mãe que tinha diabetes e tal, e minha mãe comentou que tinha um filho diabético. Ao saber das dificuldades, tomou a iniciativa de nos ajudar, forneceu todo material necessário e até médico particular no renomado Hospital Sírio Libanês, onde iniciei meu tratamento com o Doutor André Chiodi Ellis. Ele me orientou e ajudou por muitos anos junto a dona Valéria”, conta Samambaia. Apesar da abençoada ajuda, o skatista nunca teve oportunidade de conhecer Dona Valéria pessoalmente para agradecer.
Com a doença controlada, o pequeno Jonatas começou a levar uma vida normal, apenas privando-se dos tentadores doces. Começou a praticar esportes aos dez anos, sob orientação médica. “Iniciei na capoeira com apoio do meu vozão José Pequeno da Silva que, a propósito, foi quem me deu meu primeiro skate e sempre me incentivou no esporte”, conta orgulhoso. Hoje, aos 27 anos de idade, Samambaia é um cara que sobe em cima do skate todos os dias. “As vezes, quando a glicemia está meio alterada, corro para uma pequena quadra ao lada da minha casa para fazer um solo e em minutos já está controlada. É importante também dizer que sempre é bom tomar devidos cuidados antes e após o esporte. No caso do Diabetes, para não ter complicações, eu sempre faço o Destro, teste que mede o nível glicêmico, para corrigir eventuais hipoglicemias. Porque a pessoa pode chegar a desmaiar e perder os sentidos. Então é sempre bom estar atento e controlar através do aparelho de destro, meu amigo inseparável. Onde eu vou ele vai”, e conclui, “posso dizer que literalmente o skate é minha vida. Através dele consigo manter minha saúde física e mental”.
Samambaia costuma incentivar outros diabéticos a levar uma vida normal, principalmente skatistas. “Numa das viagens, eu vi escrito num shape, “eu sou diabético”. Aí eu perguntei pro skatista se era verdade, e ele disse que era mesmo. Se não me engano, foi em Belo

Começou a praticar esportes aos dez anos, sob orientação médica. (Arquivo pessoal)
Começou a praticar esportes aos dez anos, sob orientação médica (Arquivo pessoal)

Horizonte. Aí eu conversei com ele, e ele até estava com medo de andar por causa da diabetes. Eu dei uns conselhos, disse que ando de skate faz bastante tempo, mas graças ao controle os machucados se cicatrizam bem”.
A prevenção também é aconselhada por Samambaia com visitas anuais ao endocrinologista para acompanhamento e exames. E ele alerta que os exames, inclusive, são importantes para quem não é portador de diabetes, porque a doença também pode ser diagnosticada numa idade mais avançada, não só na infância.
Quando falei pro Samambaia sobre o motivo da morte do Lewis Marnell ele ficou chocado, porque se identificava com o skatista e não sabia que ele também era diabético. E pra finalizar ele mandou um recado para portadores de qualquer tipo de doença, “que tenham fé e esperança. Nunca deixem de acreditar nos seus sonhos e objetivos, e se temos uma dificuldade, é porque somos capazes de vencer. Curtam e aproveitem cada momento de suas vidas. E que Deus tenha em um bom lugar nosso amigo Lewis Marnell. Descanse em paz.”

“Se for possível, gostaria de agradecer primeiramente a Deus, que me dá forças para lutar todos os dias, toda minha família, a Dona Valéria Fontana, que nunca tive a oportunidade de conhecer pessoalmente, agradecer ao Doutor André Chiodi Ellias, que me ajudou e orientou por muitos anos, a toda Direção do Hospital Sírio Libanês, e um beijão no coração de cada amigo que fiz ao redor desse mundão.”
Recado dado. Obrigado, Samambaia, pela entrevista e palavras de inspiração.

Agora que conheceu a história do Jonatas Samambaia, assiste o promo dele. É antigo, da época em que ele ainda tinha dreadlocks, mas é muito legal.

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