Entrevista com Renato Custódio contando sobre as novidades

(Arquivo pessoal)

Quando existiam apenas as revistas Cemporcento e Tribo cobrindo a cena brasileira, era raro ver fotógrafos de skate bons sem ser do staff das duas. Tinham alguns muito bons, mas a maioria fotografava por lazer. Aí surgiu a SKT e as fotos do Renato Custódio logo começaram a chamar minha atenção. Eram diferentes, com personalidade. Nessa época, o custo para fotografar skate era muito alto, porque se usavam filmes e isso limitava o surgimento de novos profissionais da imagem.

O tempo passou, as edições da SKT eram lançadas, mas eu ainda não tinha conhecido pessoalmente o Renato e nem sabia como ele era. Como eu conhecia todos fotógrafos da Tribo e 100%, estava muito curioso pra conhecer o Ned, principalmente porque ele é de São Paulo, do Butantã, e anda de skate. Talvez eu até conhecesse de sessão, mas não fazia a ligação do skatista ao fotógrafo.

Só fui conhecer o cara no Rio de Janeiro quando ele já tinha saído da SKT e estava na 100%. Ninguém nos apresentou, mas bati o olho e já imaginei ser o figura. Ele estava acompanhando o time da Vibe e no final da turnê me juntei à eles porque já estava há alguns dias na cidade. Agora imagina a cena, entro no micro-ônibus e ele era o único lá dentro. Um cabeludo crespo sorridente com uma camiseta do MST!

Nos últimos dias troquei alguns emails com ele contando sobre as novidades. Como não podia ser diferente, ele estava na estrada e a cada email respondia de um lugar. Trocando mais uma vez de revista, lançando Colabs, produzindo sua marca, expondo em galeria de arte e programando viagens, Ned contou muitas coisas legais. Lê aí.

Várias novidades rolando. Você agora está no staff da Vista, acabou de expor na Galeria Logo, está pra lançar sua marca. O que mais está rolando?
Pois é. Fiz 31 anos agora em Julho e dizem por aí que depois dos 30 as coisas mudam. E não é que é verdade?! Acho que realmente começaram a mudar nos últimos anos e elas estão sendo refletidas agora. Tem muita coisa rolando, de verdade. Saí do staff da Cem pra desafogar a capacidade de desenvolver projetos autorais e me vincular mais com marcas nacionais. Marcas NACIONAIS! Não esqueçam isso, pois se continuarmos pagando um pau pras gringas, as coisas nunca vão engrenar no nosso mercado de verdade. Me digam, por favor, qual marca gringa distribuída no Brasil está fazendo um FILME de skate com no mínimo 30 minutos? Eles só querem resultado rápido com marketing fuleiro e imediato. Sério mesmo, um vídeo “longa-metragem” no skate é fundamental pra consolidar bons videomakers, skatistas e linguagem própria com enredo. Então, o que me deixa super feliz é que estou fazendo parte de marcas como a AGACÊ, CRAIL e VIBE, que estão fazendo vídeos ótimos com videomakers contratados, pagando salário e etc, aguardem. Por favor, não me venham falar que marca gringa também faz o mesmo, porque pode até tentar, mas um vídeo FULL com partes de todos os skatistas e uma ideia própria não está rolando e sei lá se vai rolar um dia. Vídeo de tour não entra no motor.

Como rolou essa sua mudança pra Vista?
Foi natural, sem crise. Não estava mais com o mesmo apetite de três anos atrás e lá é uma empresa normal, não tem espaço para todo mundo. Ainda mais se tivermos um projeto pessoal mais importante, não importa muito o passado.

Conta como rolou a capa da última edição da Vista.
Estava numa sessão com o Cotinz e uns amigos da Noruega. O menino estava andando atrás da gente e um dos gringos falou pra fazer umas fotos dele. De repente o Lucas se tornou o protagonista da sessão e comecei a dirigir ele subindo e descendo a rua, atravessar, e fiz várias fotos. Dentre elas surgiu essa que está na capa. Antes havia postado no tumbrl e depois no facebook. O Fred (designer da Vista) viu e me pediu em alta resolução…

Então a foto foi parar na capa mesmo não sendo inédita. Como você vê esse lance da seleção de fotos para revista, livro, internet, exposição. Quais você acha que são os critérios para cada um, ou não existe?
Com certeza existe e ainda bem que cada um pensa de uma forma, isso falando de revista onde estou faz mais tempo. A foto não era inédita porque 15 pessoas viram no meu tumblr/facebook? Sim.. A resposta é sim, não importa o meio que vai ser publicado, mas por exemplo, revista é mais jornalística, coisas inéditas. Livro também pode ser, ou não. Na real, TUDO É RELATIVO, TUDO FOI INVENTADO POR ALGUÉM. Mas o que já ouvi de elogios dessa capa não é brincadeira, mesmo tendo sido “publicada” no meu facebook! HAHAHA. Parabéns pro Fred que teve a sacada de pensar nela como capa, isso sim. Na Cemporcento eu não podia publicar (na internet) uma foto que foi publicada na revista durante um ano. Depois de um ano nem sabia mais que a foto existia, acho isso um tanto egoísta e não influência em nada no editorial da revista. E claro que por isso muitas vezes era o ovelha negra, nem lembrava das regras. Malditas regras…

Fale sobre a exposição na Logo. Você mostrou umas fotos de reflexos, é isso?
Isso. A exposição marcou o lançamento de um shape meu assinado pela Agacê, que tem uma das fotos de reflexo impressa no shape. O shape vem com um zine/livreto com a série toda.

Foto de reflexo por Renato Custódio. Veja no final da entrevista mais fotos

De onde surgiu a ideia de fazer essas fotos?
Surgiu da vontade de fazer fotos diferentes e mais abstratas. Não ficou muito abstrato, mas acho que carrega um pouco do caos que vivemos muitas vezes nas grandes metrópoles. Vai sair uma entrevista comigo na próxima Vista, onde conto detalhes.

Quais outros fotógrafos de skate do Brasil você vê fazendo fotos criativas?
Poxa, tem uma penca. O Fabiano Lokinho desde que começou a fotografar faz as mais criativas, o Fernando Martins além disso capricha na luz, qualidade e enquadramento. A própria Vista tem aberto espaço pra novos fotógrafos como; Alex Seabra, Pedro Wolf, Emanuel Marinho e outros. Gosto do trabalho do Maurício Soares de Teresina, sangue bom!!!

Seu passaporte é bastante carimbado. Por quais países você já passou?
Estados Unidos (NY, NJ e CA), Europa (Berlim, Barcelona, Praga, País Vasco, Londres, Amsterdã, Cracóvia, Paris e Genebra), Israel, Chile, Argentina.

E qual a cultura mais interessante que você já fotografou contrastando com o skate?
Acho que contrastando nenhuma. Tudo meio similar; músicos, artistas, maloqueiros, modernos, moradores de rua e etc. Já visitei lugares interessantes que contrastam, mas não fiz um ensaio ou fotos que poderia dizer que pesquisei um pouco mais afundo. Mesmo porque nessas viagens o tempo é curto e estamos sempre na “missão”. O mesmo estava acontecendo essa semana, acompanhei um pouco o pessoal do Ringo Deathstarr em uma tour aqui em São Paulo, Rio e Curitiba. Eles mal conheceram a cidade ou lugares legais, pessoas e etc. Me identifiquei com a viagem deles. A nossa diferença é que nós normalmente estamos na rua e nos deparamos fisicamente com as pessoas e lugares. Eles vão pro estúdio, casa noturna e restaurante.

O nome da sua marca é HAHAHA. Quando você vai colocar ela no mercado?
Vou colocar assim que estiver madura suficiente. Falta pouco, estamos acertando tudo nos mínimos detalhes. Carrego um pouco do perfeccionismo que faço as fotos. Isso tem ajudado a perceber detalhes que com certeza vai fazer a diferença quando estiver pronta. Comecei pelo caminho que considero fundamental, o investimento em equipamento, vídeo, foto e grupo criativo. Somos um grupo de pessoas que querem fazer algo legal e de verdade. Não considero “minha” marca, e sim de todos que estão juntos. Mas no fundo está muito ligado ao meu trabalho para conectar todas essas pessoas e ter um poder de decisão sem depender de sócios. Escuto muito o que todos tem a dizer, e inclusive quero ao longo do tempo deixar essas pessoas com mais poder de decisão. Não acho legal ver marcas que dependem muito do dono pra liberar um projeto ou algo do tipo. Principalmente quando o dono é frustrado com o skate.

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